A síndrome da pressa


Os psicólogos são unânimes em dizer que o sentimento permanente de urgência sem justificativa é uma síndrome contemporânea da pressa.
Aparentemente as pessoas agem de acordo com as exigências das suas obrigações do dia-a-dia. Mas, os psicólogos vêm constatando que, em muitas pessoas, a pressa surja sem estímulos externos justificáveis. Longos períodos de correria condicionam as pessoas a viver dessa forma mesmo quando não precisam. Será uma atitude normal ou doentia? A distinção é sutil. Para começar, casos assim não podem ser classificados como doença, mas como ansiedade ou um comportamento obsessivo. Caracterizam-se por um sentimento de pressa sem motivo. Surge mesmo nas férias ou em situações em que não há motivo para alguém ficar ansioso ou apressado. Os principais sinais de que o sentimento de urgência fugiu do controle são quando algo simples e, aparentemente inofensivo, causa irritação e até mesmo raiva intensa. Quem fica nervoso com um sinal fechado ou com um atendente que demora além da média para atendê-lo (sem falar da fila) é uma possível vítima da pressa crônica.
Nos Estados Unidos, o termo usado para pessoas com esses sintomas é “hurry sickness” (doença da pressa). Ele foi criado pelo cardiologista americano Meyer Friedman em 1959. O médico reparou que os braços das cadeiras da sala de espera duravam muito pouco. Descobriu que os pacientes se sentavam na ponta dos assentos, na posição de quem pretende levantar a qualquer momento, e batucavam nervosamente nos apoios de braços das poltronas. Friedman resolveu estudar os efeitos do estresse. Concluiu que pessoas tomadas pelo sentimento de urgência constante e irritabilidade eram mais sujeitas a problemas cardíacos.
A ideia de doença da pressa continua atual. Dois estudos recentes tentam mapeá-la. O primeiro deles foi feito pela coordenadora do Laboratório de Estudos Psicofisiológicos do Stress da PUC-Campinas, Marilda Lipp. Ela ouviu quase duas mil pessoas com mais de 25 anos em São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas, e descobriu que 65% dizem viver com pressa. “Quase todos nós temos pressa, mas em 10% das pessoas que entrevistei esse sentimento é exagerado”, diz Marilda. “Essas pessoas fazem diversas atividades ao mesmo tempo, vivem com a sensação de urgência e se irritam quando sentem que estão perdendo tempo.”
Outra pesquisadora, Ana Maria Rossi, da International Stress Management Association (Associação Internacional de Gerenciamento do Estresse), entrevistou 900 profissionais entre 24 e 58 anos, em São Paulo e em Porto Alegre. Constatou que 36% deles sofrem da doença da pressa. Eles sentem pressa de forma crônica e injustificada. O preocupante nos resultados dessa pesquisa é que o grupo identificado com esse perfil apresenta uma série de disfunções. Segundo o levantamento, 93% reclamam de crises de ansiedade, 91% de angústia e 57% de sentimentos de raiva injustificada. Dores musculares, incluindo dor de cabeça, atingem 94% dos entrevistados, 45% deles sofrem com distúrbios do sono e 24% com taquicardia.
“O diagnóstico da pressa crônica é difícil de fazer. As pessoas não conseguem perceber quando seu comportamento é exagerado em relação à realidade. Mesmo quando alguém reconhece que está com um problema - a imagem de eficiente que o apressado tem na sociedade é interpretada como sendo o ritmo de vida que requer essa postura” - diz Ana Maria. As pessoas procuram tratamento quando as consequências desse comportamento chegam a extremos. A angústia cede lugar à depressão. “Os pacientes recorrem aos médicos por causa de sintomas variados: falha de memória, dificuldade de concentração, cansaço, taquicardia, dores musculares, cefaleia e palpitações, sem “enxergar” que a ansiedade está por trás deles”, diz o psiquiatra Marcio Bernik, coordenador do Programa Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

Dê um tempo, sai do condicionamento ansioso:
- Tire algum tempo para si próprio, mesmo que seja apenas um dia, ou quem sabe uma semana, longe da correria e de compromissos estressantes.
- Planeje um tempo fixo só para você.
- Realize algum trabalho voluntário, ou comece algum hobby.
- Pare por vários pequenos intervalos durante o dia.
- Pegue 30 segundos e dê uma olhada pela janela, ou se alongue.

- Relaxe!

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