O passo acelerado, a fala atropelada, a compra por impulso e a escrita abreviada são marcas típicas da síndrome da pressa.
Apesar de não ser reconhecida oficialmente pela psiquiatria,
a síndrome da pressa é estudada desde 1980. Segundo estudo realizado pelo
International Stress Management Association do Brasil (Isma-BR), entidade que
estuda os efeitos do estresse, o transtorno já atinge cerca de 30% dos
brasileiros. Ele não constitui uma doença, mas uma série de comportamentos que
altera significativamente a vida social, a saúde e a qualidade de vida dos
indivíduos.
A síndrome acompanha o indivíduo nas 24 horas. “Ele acredita
que é pouco tempo para dar conta de suas demandas, acumula cada vez mais
funções e se sente culpado se não faz mais coisas”, explica a psicóloga Katie
Almondes.
O transtorno é caracterizado por um conjunto de sinais como tensão, hostilidade, impaciência, ansiedade, valorização da quantidade e desvalorização da qualidade, sono agitado, inadmissão a atrasos, problemas de memorização e interrupção da fala de terceiros.
A síndrome da pressa apresenta sinais semelhantes ao do estresse em estágio avançado, e é comumente confundida com ele. Porém, o problema tem origens diferentes. Enquanto o estresse avançado é uma reação física e psicológica a um evento novo, ameaçador ou angustiante, a síndrome da pressa é desencadeada por um padrão de comportamento em que o próprio indivíduo traz o estresse para si – ou seja, na maioria das vezes, ele próprio transforma sua vida nesse corre-corre sem fim, seja para produzir mais e ter mais retorno financeiro, seja para ter mais reconhecimento no trabalho devido à cobrança de resultados.
A pressa constante afeta a qualidade de vida em vários
níveis: pessoal, profissional, emocional e físico. Isso porque a pessoa deixa
de se dedicar aos relacionamentos e a qualidade do trabalho acaba ficando
comprometida. Além disso, a ansiedade e a frustração constantes afetam a
qualidade do sono e da alimentação, o que pode acarretar uma série de doenças.
Depressão, distúrbios gástricos, transtornos alimentares, insônia, dores musculares,
fadiga e pressão alta podem ser algumas consequências.
“Tem dias que eu tenho chilique se pego trânsito intenso ou
uma fila longa”, conta Carolina Bittencourt, estudante universitária e
professora de inglês. Ela conta que já teve discussões com pessoas que estavam
a “atrasando”. Furar fila e passar em sinal vermelho também são deslizes que
confessa cometer. “Depende da minha pressa e se estou atrasada ou não”, afirma.
Ela diz que vive acelerada e se justifica pela quantidade de coisas que têm de
fazer. Mas o ritmo desenfreado já está mostrando suas consequências: “Vivo de
mau humor, tenho muita dor nas costas e acabei de descobrir que estou com
gastrite”, conta. Mesmo assim, ainda não pensa em desacelerar.
O mercado tem se baseado no crescimento rápido, no lucro e no consumo imediato, e isso está levando o mundo a um colapso econômico e ambiental. Acredita-se que existem produtos para tudo, medicamentos que resolvem todos os problemas de saúde, até baixa autoestima.
Continua.
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